quarta-feira, 24 de setembro de 2008

História de Cabeça de Eiras

Cabeça de Eiras - Sandomil - Seia

Situada em plena Serra da Estrela, Cabeça de Eiras é uma Anexa da freguesia de Sandomil, concelho de Seia, distrito da Guarda.
Trata-se de uma jovem povoação que surge por volta da metade do século XIX1. Sita no cimo de um monte paradisíaco proporcionando uma das mais belas vistas sobre a Serra da Estrela e, em especial, sobre o belo vale do rio Alva.
Seguindo a tradição oral, e como constatou o Dr. António Herculano da Paixão Melo2, a terra deve o seu nome ao facto de os primeiros habitantes se estabelecerem no solarengo cabeço, zona envolvente à Igreja, e às inúmeras eiras criadas pelos seus habitantes para secar milho, feijão, peras, passas de uva, figos e outros produtos da terra.
É uma povoação que inicialmente estava vocacionada para a exploração das riquezas da terra. Assim, os seus habitantes sempre estiveram ligados às tarefas agrícolas às quais aliou mais tarde a exploração da madeira e resina, dos pinhais da região, e que teve o seu apogeu nas décadas de oitenta e noventa do séc. XX. Na região a aldeia ainda é conhecida como “terra de resineiros” mas, actualmente, são poucos o que ainda exercem actividade.
No presente, a maioria das pessoas trabalha nas áreas da construção civil e confecções, continuando incrementado o negócio das madeiras e em menor escala o da resina.


1 Nos livros da Câmara de Sandomil apenas se encontram registos sobre a aldeia da segunda metade do século XIX. Trata-se de uma referência no “Tombo dos Bens das Confrarias da Freguesia, datada de 1855 (Cf. MELO, António Herculano da Paixão, Apontamentos para a monografia da freguesia de Sandomil, Edição do Autor, 1997, pág.175).
2 Idem.

A antiga capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Subsídios para a memória


Nos anos vinte do século passado e como pagamento de uma promessa, José Mendes Gouveia ofereceu o terreno e deu inicio, com os incentivos do Cónego Nogueira do Piodão, e certamente com a ajuda dos restantes habitantes da terra, às obras da igreja antiga.
Pouco se sabe sobre o templo inicial, a lembrança é vaga, mas da tradição oral subsiste a certeza que o edifício, de arquitectura vernácula, foi sofrendo várias obras e melhoramentos com o contributo de todo o povo, donde se destaca: obras, quase anuais, de pintura (a cal); reparações do telhado; construção da sacristia; etc.
Surgida de uma promessa, a pequena capela preencheu as necessidades espirituais de um pequeno povo, sem grandes recursos económicos, mas que era imagem reflectida de toda a sua vida, dificuldades e sacrifícios, sendo o seu mais importante símbolo.
O altar da capela foi concebido em talha sobre madeira de castanho. Gizado pelo referido cónego Nogueira, foi concebido num gosto muito sui generis e simples, com uma estrutura associada ao estilo neoclássico mas com laivos de um certo barrocismo, onde se destacam as folhas de acanto. A sua execução ficou a cargo de um artista marceneiro de nome Francisco de Brito, também chamado de Chico Caspirro, oriundo de Corgas e para a decoração foram chamados artistas de Braga que pintaram o referido retábulo em tons de branco, azul e dourados. Deste retábulo subsiste em boas condições a mesa de altar, que podemos encontrar na sacristia da actual igreja, e parte da estrutura já sem policromia numa arrecadação.
Pelo seu tamanho, em 1980, decidiu-se demolir esta capela e no mesmo local se construiu o actual templo.
A velha capela, de valor reconhecido por quase todos os habitantes da terra, guardava informações, significados, mensagens e registos da nossa história humana pelo que se impunha a sua preservação. Numa terra onde o espaço abunda não se percebe o porquê da decisão de destruir o velho templo e no seu local erguer o actual. Apesar de, na opinião de muitos, tal decisão se arrolar como um erro, também não podemos deixar de referir que ela foi tomada com as melhores intenções.

Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro





O actual templo é simples e elegante. Foi construído na década de oitenta do século XX, apresenta uma estrutura de betão ampla de nave única e sacristia na cabeceira, dividida em duas salas. Ao lado encontramos a torre sineira de três pisos obra feita em dois momentos e onde encontramos dois sinos – um pequeno sino proveniente da igreja antiga e novo de maiores dimensões.




















O interior do templo têm tecto forrado a madeira, paredes com lambrim de azulejo e chão em cimento marmoritado de tons vinosos e cinzentos.
No topo da nave observamos altar, ambão e coluna do sacrário em granito. Na parede encontramos, ao centro, uma escultura de vulto, de madeira policromada, representando Cristo crucificado, pregado numa cruz latina, de madeira desprovida de decoração mas com filactera no frontespício com a incrição: “I.N.R.I.“. A figura de Cristo, tem a cabeça, com cabelos e barbas castanhos, virada sobre o seu ombro direito. Tem os braços abertos sobre a trave horizontal da cruz, seguros nas mãos com duas chagas. Na cintura tem um cendal, que o envolve, caindo uma ponta sobre o seu lado direito. As pernas encontram-se sobrepostas: a esquerda sobre a direita, presas nos pés, também com uma chaga, na trave vertical da cruz.
Do nosso lado direito, observamos a venerável imagem da nossa padroeira, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, colocada sobre uma peanha castanha feita de betão e encastrada na parede, de que falaremos a seguir. Depois das obras que o templo recebeu no ano passado, figura do nosso lado esquerdo, colocado sobre semelhante peanha de betão, a imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Dos melhoramentos efectuados em 2007, destacam-se as duas estruturas laterais feitas com estrutura de ferro e decoradas na frente com mármore e na laterais com madeira, onde se colocaram as portas de acesso às salas da sacristia.
















A festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro realiza-se sempre no quarto domingo de Setembro.




Trata-se de uma das festas mais concorridas desta época e região.
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A nossa padroeira - Nossa Senhora do Perpétuo Socorro



Ao contrário da maioria das imagens de Nossa Senhora a do Perpétuo Socorro, originalmente, não é conhecida em estátua, ela é apresentada numa pintura de meio corpo, em estilo bizantino (que mais à frente iremos estudar em maior profundidade).
Em Cabeça de Eiras, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, carregando nos braços o menino Jesus, está representada sob a forma de escultura de corpo inteiro, em madeira policromada, e possuí uma coroa aponível em prata.
Está ladeada pelos arcanjos Gabriel, à sua esquerda, e Miguel, à direita, também afigurados sob a forma de escultura em madeira policromada, que se fixam ao fundo através de um ferro que lhes dá a aparência de pairar no ar. São Miguel apresenta a lança, a vara com a esponja, e o cálice da amargura enquanto que São Gabriel segura a cruz e os cravos, instrumentos da morte de Jesus.
Trata-se de uma imagem da década de vinte do século XX, trabalho de muito boa mão, bem vincado pelo extremo requinte que confere ao conjunto uma beleza inexequível que vislumbra todos quantos olham para ela.
Ao longo da sua história, esta imagem terá sofrido algumas alterações que justificaram que em 1957 fosse intervencionada na oficina Casa Real, em Braga, por José S.va Pontes (inscrição da peanha). Actualmente a obra apresenta-se com algumas fissuras e destacamentos de policromia na parte inferior, pelo que necessita de intervenção a nível conservativo e pequenos trabalhos de restauro a nível da policromia.

Casa do Povo



Junto da igreja, na parte detrás, encontramos o edifício, por muitos chamado de “Casa do Povo” que é a sede da Comissão de Melhoramentos de Cabeça de Eiras. Esta instituição é responsável por muitos dos destinos da nossa terra.

Cemitério

Junto ao local denominado de Casas Altas encontra-se desde 1989 (ano da bênção) o cemitério da aldeia. Muitos dos corpos dos nossos entes queridos, como familiares e amigos estão aí sepultados mas os de há longas datas encontram-se sepultados no cemitério de Corgas, junto da capela de São Cosme e São Damião – uma das capelas mais antigas da freguesia e que invoca os irmãos gémeos nascidos na Arábia do século IV e que usavam a cura como mecanismo de evangelização e caridade.



A fonte

Bem dentro da Aldeia encontramos desde 1926 uma fonte construída em granito que jorra água fresca, pura e cristalina e onde muitos são aqueles que aí se refrescam e saciam a sua sede. Ao seu lado encontramos os tanques públicos, onde muitas das mulheres da terra lavam as roupas da família e vivem momentos de sociabilidade e confraternização entre elas.






Campo de futebol

A caminho de São Gião encontra-se construído desde a década de 90 do século passado o campo de futebol que ostenta o nome de Mário Morais, em justa homenagem ao doador do terreno onde foi edificado.
De pequenas dimensões e com características peculiares, este campo é local de reunião, praticamente todos os domingos, de muitas das gentes da terra e de Corgas. Aí se reúnem por uma paixão comum, o futebol, e reforçam-se os laços de amizade.









1 Panorâmicas de Cabeça de Eiras


2 Panorâmicas de Cabeça de Eiras


3 Panorâmicas de Cabeça de Eiras


4 Panorâmicas de Cabeça de Eiras


5 Panorâmicas de Cabeça de Eiras


Como vir até Cabeça de Eiras




FANTÁSTICO NEVÃO - Aldeia vestida de branco
















6 Panorâmicas de Cabeça de Eiras


7 Panorâmicas de Cabeça de Eiras